Em muitos lugares, os mortos são lembrados em datas específicas, com homenagens pontuais e visitas ocasionais aos cemitérios. Mas há um lugar no mundo onde a convivência com os mortos faz parte da rotina diária: a cidade de Manila, nas Filipinas — mais especificamente no Cemitério Norte (North Cemetery). Neste lugar singular, centenas de famílias vivem literalmente entre túmulos, mausoléus e lápides, transformando o espaço fúnebre em um bairro vivo, com suas próprias regras, histórias e cotidiano.
Viver entre os túmulos:
No Cemitério Norte de Manila, os túmulos servem de moradia, bancos viram camas e mausoléus viram casas improvisadas. Algumas famílias vivem ali há gerações, trabalhando como cuidadores de túmulos, fazendo manutenção dos jazigos ou vendendo flores e velas. Para muitos, é o único lugar onde conseguem viver, em uma cidade densamente povoada e marcada pela desigualdade social.
Uma rotina surpreendente:
As cenas do cemitério lembram um bairro comum: crianças jogam bola entre os túmulos, roupas secam em varais improvisados, vendedores ambulantes circulam, e vizinhos conversam em frente às “casas”. Os mortos não são vistos como algo assustador — estão integrados à paisagem e à cultura local. A morte, nesse contexto, perde seu ar de tabu e se transforma em parte da vida cotidiana.
Tradição, fé e resiliência:
A forte religiosidade das Filipinas também contribui para essa relação íntima com os mortos. Muitos habitantes veem sua presença ali como um sinal de fé ou proteção espiritual. Em datas como o Dia de Finados (Undas), o cemitério se enche de pessoas celebrando a memória dos entes queridos com comida, música e orações — uma verdadeira festa da vida entre os mortos.
Desafios sociais e legais:
Apesar da atmosfera comunitária, viver em um cemitério traz muitos desafios. A falta de saneamento básico, o risco de despejo pelas autoridades e a precariedade das condições de vida são problemas reais enfrentados pelos moradores. Ainda assim, muitos resistem à ideia de sair dali, por falta de opções melhores ou por apego ao local onde construíram suas vidas.
Conclusão:
A cidade dos mortos em Manila é um exemplo poderoso de como a linha entre a vida e a morte pode ser mais tênue do que imaginamos. É um lugar onde o respeito aos mortos se mistura com a luta dos vivos, onde o silêncio dos túmulos contrasta com a vibração do cotidiano. Um lembrete de que, para muitos, a vida segue — mesmo entre os mortos.
Fonte: Eixão de Ideias